sábado, 29 de junho de 2013

ALFABETIZAR LETRANDO POR MEIO DO ESTUDO DA HISTÓRIA E CULTURA DE UBERABA

Helena Aparecida Dadá de Almeida Souza
Escola Municipal Uberaba
Nívea Caixeta Veloso
Universidade de Uberaba
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES

Este relato objetiva compartilhar experiências vivenciadas entre alunos do 3º ano do Ensino Fundamental, da Escola Municipal Uberaba, professores regentes e alunos do curso de pedagogia, no segundo semestre de 2012, durante a execução da proposta de alfabetização “Cidade alfabetizadora – uma proposta de alfabetização por meio do estudo da história local e do cotidiano”, que fundamenta o Subprojeto de Pedagogia da Universidade de Uberaba, vinculado ao PIBID – Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência.

O projeto tem por objetivo a melhoria do processo de alfabetização de crianças do 3º ano do Ensino Fundamental. A proposta se fundamenta na teoria do letramento e possibilidades culturais e históricas que o meio onde a criança vive oportuniza para dar sentido e significado às práticas de leitura e escrita. E ainda, oportuniza aos alunos, em processo de formação docente, experiências práticas de uso da teoria aprendida nos cursos de formação.

Dentre as diferentes  atividades propostas, está a realização de pesquisas de campo onde a história e a cultura do município de Uberaba são o objeto de estudo. Dos objetivos propostos, o principal é a contextualização do conhecimento para favorecer a alfabetização, por meio de situações significativas e experiências concretas envolvendo o letramento.

Um evento de letramento inclui atividades que têm as características de outras atividades da vida social: envolve mais de um participante e os envolvidos têm diferentes saberes, que são mobilizados na medida adequada, no momento necessário, em prol de interesses, intenções e objetivos individuais e de metas comuns. Daí ser um evento essencialmente colaborativo (KLEIMAN, 2005, p.23).

De acordo com Kleiman (2005), o estudo sobre o uso da leitura e da escrita na sociedade favorece a compreensão do aluno sobre a importância de conhecer e aprender sobre essas práticas para uma atuação de forma ativa, colaborativa e reflexiva na sociedade.  

Nesse sentido, a metodologia se torna significativa para o aluno na medida em que ele percebe a aplicação prática em seu cotidiano do que aprende na escola.

Ao evidenciar a polifonia da cidade, Canevacci nos auxilia a por em relêvo a texturologia da metrópole contemporânea – ruas, edifícios, outdoors, publicidade, corpos, roupas, praças, trânsito, publicidade, moda, enfim, toda uma semiótica urbana (Barthes, 1985), que pode ser traduzida como conteúdos alfabetizadores à medida que podem ser lidos, (re)significados individual e/ou coletivamente num dado contexto histórico-cultural, especialmente no espaço social destinado e legitimado à aprendizagem das práticas lecto-escriturais na contemporaneidade: a escola. (TAVARES, 2009, pág.10)

Nessa perspectiva, Tavares (2009) descreve a cidade como um “livro de espaços” que favorece o processo de alfabetização, pois todos os seus espaços podem ser lidos e ressignificados pelos alunos. Ou seja, o aluno percebe o uso social da leitura-escrita e sua importância para as relações existentes em sociedade. Quanto mais contextualizado e próximo do real se dá o processo de alfabetização, mais curiosidade e interesse despertará no aluno. As práticas repetitivas de exercícios fragmentados para a alfabetização de nada contribuem para motivar o aluno, pois não tem um significado real, ou seja, são vazias de sentido.

Entre as atividades práticas pedagógicas realizadas sobre o município, destacamos a visita à Praça Santa Terezinha.

Antes, porém, os alunos conheceram a história sobre a origem do município de Uberaba, por meio de vídeo, e suas transformações no decorrer dos anos. Trabalhamos o conhecimento prévio deles sobre suas percepções de utilização de uma praça como local de lazer e expressão de cultura. Por fim, conheceram a história da Praça Santa Teresinha onde foi construída uma igreja com uma belíssima arquitetura em alvenaria, de tijolos e características neorromânica, principal obra da praça: “Igreja Santa Teresinha”:

Dom Antônio de Almeida Lustosa, no dia 17 de dezembro de 1927, abençoou a pedra fundamental para a construção da Igreja Santa Terezinha. A inauguração se deu no dia 31 de março de 1929. Com a chegada dos Padres Capuchinhos, no final do ano de 1946, surgiu a necessidade de construção de uma nova Matriz.  As obras da atual Igreja de Santa Terezinha iniciaram-se no dia 07 de janeiro de 1960. Sua pedra fundamental foi benzida por Dom Alexandre Gonçalves do Amaral, no dia 02 de outubro do mesmo ano. A antiga Igreja pintada de cor rosa, foi demolida em dezembro de 1961. A planta foi desenhada pelo Sr. Nicolau Baldassare, sob a orientação do Vigário da Paróquia. A construção ficou a cargo do engenheiro uberabense João Laterza.  “Os trabalhos de decoração e pintura foram entregues aos artistas espanhóis Carlos Fachion Sanchez e Antônio Lopes Dias. Os vitrais foram encomendados à Casa de Vitrais Conrado Sorgenicht S.A., de São Paulo. Os temas foram inspirados na vida de São Francisco de Assis, e principalmente, na vida de Santa Terezinha do Menino Jesus. No dia 07 de março de 1965, foi celebrada a primeira missa em língua vernácula, na Igreja de Santa Terezinha” (PRATA, 1987, p.131).  A inauguração da igreja nova foi no dia de Santa Terezinha, 1º de outubro de 1962, durante missa cantada pelo coral do Instituto Marcelino Champagnat, dos irmãos Maristas, segundo depoimento do prof. Pedro dos Reis Coutinho, que fazia parte do coral.(ARQUIVO PÚBLICO DE UBERABA, 2003, Folha 31)

A Igreja foi construída em 1946 pelos capuchinhos, os trabalhos de decoração e pintura foram entregues a artistas espanhóis e passou por muitas reformas no decorrer dos anos. Além de conhecer a história da igreja, os alunos também se encantaram com seus lindos vitrais e traços marcantes e belíssimos da arquitetura da época.

 Ao redor da igreja, na praça, os alunos visualizaram as placas, ruas, bancas de jornais e outros comércios, que a circundam. Na ocasião, foram recebidos pela proprietária de uma antiga panificadora que se situa na mesma praça e puderam ouvir a história de construção da mesma e sua evolução no decorrer dos anos. Foram observadas as sinalizações das ruas que contornam a praça, nomes das mesmas, outdoors, placas, entre outros portadores de texto que contribuem para contar a história daquele espaço.

Em sala, os alunos realizaram diversos registros sobre essa atividade, tais como: oralização da vivência, ilustração por meio de desenho/pintura, produção de texto, resolução de situações-problemas com referência na praça, sua localização em mapas do município de Uberaba, uso de palavras retiradas do contexto para estudo ortográfico.

Em todos esses espaços, percebemos o uso do conhecimento vivenciado na prática como principal agente de valorização do aprendizado. A experiência enriqueceu o processo de ensino-aprendizagem e despertou o interesse dos alunos pelo registro das suas próprias vivências. Esse fato foi observado em todos os apontamentos feitos pelos alunos.

Esse estudo oportunizou uma leitura diferenciada da história de Uberaba, mediante informações sobre a cultura da época e contribuiu para o enriquecimento do processo de leitura e escrita dos alunos da Escola Municipal Uberaba. A metodologia proposta favoreceu a ressignificação e contextualização dessas práticas. E o resultado obtido foi à satisfação e o maior interesse dos alunos pelas práticas de leitura e escrita para registro das suas vivências e como forma de conhecer melhor a história e cultura do lugar onde vivem.

A proposta do subprojeto vivida pelos pibidianos aponta para a importância da aquisição de saberes por meio da troca de experiência com os alunos. Os saberes teóricos dos alunos, provenientes do curso de formação em pedagogia, foram relacionados com a prática vivenciada. E, com certeza, essa experiência enriqueceu a teoria estudada.

Nesse sentido, acreditamos que esse momento de troca de experiência entre os professores em formação e os alunos do 3º ano contribuirá com a construção de um profissional mais competente, criativo e capaz de pensar e repensar a sua prática pedagógica no cotidiano da escola. A partir das atividades foi possível evidenciar o quanto é importante o trabalho a partir dos saberes adquiridos e vivenciados na sociedade ao longo da experiência escolar, ou seja, juntos e colaborando uns com os outros estabelecemos um círculo de cultura em torno do processo de alfabetização, o que motivou os alunos e tornou a experiência cheia de sentidos.

Segundo Freire (1981), sobre “círculo da cultura”;

Círculo de cultura é uma ideia que substitui a de “turma de alunos” ou de “sala de aula”. “Círculo”, porque todos estão á volta de uma equipe de trabalho que não tem um professor ou um animador de debates que, como um companheiro alfabetizado, participa de uma atividade comum em que todos ensinam e aprendem.
 [...]  “De cultura”, porque, muito mais do que o aprendizado individual de “saber ler-e-escrever”, o que o círculo produz são modos próprios e novos, solidários, coletivos, de pensar. E todos juntos aprenderão, de fase, de palavra em palavra, que aquilo que constroem é uma outra maneira de fazer a cultura que os faz, por sua vez, homens, sujeitos, seres de história. (FREIRE, 1981, pág. 43)

 Tanto os alunos, professores e pibidianos compreenderam que o conhecimento não precisa ser compartimentado; a cultura e a história do município são muito ricas e podem ser contextualizadas em sala de aula para favorecer o processo de aquisição de leitura e escrita, ou seja, o professor pode alfabetizar-letrando por meio da história sócio cultural do meio onde o aluno vive, transcendendo os limites da sala de aula.

Espera-se que, a partir dessas e de outras experiências, professores e alunos possam construir um novo conhecimento em que ambos descubram que podem aprender e a fazer juntos, provocando mudanças na metodologia e uso prático das vivências sociais que permeiam o uso da leitura, da escrita, da cultura, do diálogo, da contextualização, da colaboração, da reflexão crítica e da cooperação como sendo os principais recursos da prática alfabetizadora significativa para o aluno, para o professor e para a sociedade.

Referências Bibliográficas

ARQUIVO PÚBLICO DE UBERABA. Documento fotográfico. Folha 33, 2001. Disponível em:

BRANDÃO, Carlos R.. O que é método Paulo Freire. 1 ed. Ed. Brasiliense, 1981,São Paulo\SP

BRASIL, MEC. Kleyman, Angela B.. Preciso “ensinar” o letramento? Não basta ensinar a ler e escrever? Cefiel/IEL/Unicamp, 2005-2010. Disponível em:

TAVARES, Maria Tereza Goudard. A Cidade e a Alfabetização das Crianças das Classes Populares: algumas considerações. Educação Popular – GT: 06. Instituição Financiadora: FAPERJ/UERJ, 2009. Disponível em:



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