Helena Aparecida Dadá
de Almeida Souza
Escola Municipal
Uberaba
Nívea Caixeta Veloso
Universidade de Uberaba
Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES
Este
relato objetiva compartilhar experiências vivenciadas entre alunos do 3º ano do
Ensino Fundamental, da Escola Municipal Uberaba, professores regentes e alunos
do curso de pedagogia, no segundo semestre de 2012, durante a execução da
proposta de alfabetização “Cidade alfabetizadora – uma proposta de
alfabetização por meio do estudo da história local e do cotidiano”, que fundamenta
o Subprojeto de Pedagogia da Universidade de Uberaba, vinculado ao PIBID – Programa
Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência.
O
projeto tem por objetivo a melhoria do processo de alfabetização de crianças do
3º ano do Ensino Fundamental. A proposta se fundamenta na teoria do letramento
e possibilidades culturais e históricas que o meio onde a criança vive
oportuniza para dar sentido e significado às práticas de leitura e escrita. E
ainda, oportuniza aos alunos, em processo de formação docente, experiências
práticas de uso da teoria aprendida nos cursos de formação.
Dentre
as diferentes atividades propostas, está
a realização de pesquisas de campo onde a história e a cultura do município de
Uberaba são o objeto de estudo. Dos objetivos propostos, o principal é a
contextualização do conhecimento para favorecer a alfabetização, por meio de
situações significativas e experiências concretas envolvendo o letramento.
Um evento de
letramento inclui atividades que têm as características de outras atividades da
vida social: envolve mais de um participante e os envolvidos têm diferentes
saberes, que são mobilizados na medida adequada, no momento necessário, em prol
de interesses, intenções e objetivos individuais e de metas comuns. Daí ser um
evento essencialmente colaborativo (KLEIMAN, 2005, p.23).
De
acordo com Kleiman (2005), o estudo sobre o uso da leitura e da escrita na
sociedade favorece a compreensão do aluno sobre a importância de conhecer e
aprender sobre essas práticas para uma atuação de forma ativa, colaborativa e
reflexiva na sociedade.
Nesse
sentido, a metodologia se torna significativa para o aluno na medida em que ele
percebe a aplicação prática em seu cotidiano do que aprende na escola.
Ao evidenciar a polifonia
da cidade, Canevacci nos auxilia a por em relêvo a texturologia da
metrópole contemporânea – ruas, edifícios, outdoors, publicidade, corpos,
roupas, praças, trânsito, publicidade, moda, enfim, toda uma semiótica urbana
(Barthes, 1985), que pode ser traduzida como conteúdos alfabetizadores à
medida que podem ser lidos, (re)significados individual e/ou coletivamente num
dado contexto histórico-cultural, especialmente no espaço social destinado e
legitimado à aprendizagem das práticas lecto-escriturais na contemporaneidade: a
escola. (TAVARES, 2009, pág.10)
Nessa
perspectiva, Tavares (2009) descreve a
cidade como um “livro de espaços” que favorece o processo de alfabetização, pois
todos os seus espaços podem ser lidos e ressignificados pelos alunos. Ou seja,
o aluno percebe o uso social da leitura-escrita e sua importância para as
relações existentes em sociedade. Quanto mais contextualizado e próximo do real
se dá o processo de alfabetização, mais curiosidade e interesse despertará no
aluno. As práticas repetitivas de exercícios fragmentados para a alfabetização
de nada contribuem para motivar o aluno, pois não tem um significado real, ou
seja, são vazias de sentido.
Entre
as atividades práticas pedagógicas realizadas sobre o município, destacamos a
visita à Praça Santa Terezinha.
Antes,
porém, os alunos conheceram a história sobre a origem do município de Uberaba,
por meio de vídeo, e suas transformações no decorrer dos anos. Trabalhamos o
conhecimento prévio deles sobre suas percepções de utilização de uma praça como
local de lazer e expressão de cultura. Por fim, conheceram a história da Praça
Santa Teresinha onde foi construída uma igreja com uma belíssima arquitetura em
alvenaria, de tijolos e características neorromânica, principal obra da praça:
“Igreja Santa Teresinha”:
Dom Antônio de Almeida Lustosa, no
dia 17 de dezembro de 1927, abençoou a pedra fundamental para a construção da
Igreja Santa Terezinha. A inauguração se deu no dia 31 de março de 1929. Com a
chegada dos Padres Capuchinhos, no final do ano de 1946, surgiu a necessidade
de construção de uma nova Matriz. As obras da atual Igreja de Santa
Terezinha iniciaram-se no dia 07 de janeiro de 1960. Sua pedra fundamental foi
benzida por Dom Alexandre Gonçalves do Amaral, no dia 02 de outubro do mesmo
ano. A antiga Igreja pintada de cor rosa, foi demolida em dezembro de 1961. A
planta foi desenhada pelo Sr. Nicolau Baldassare, sob a orientação do Vigário
da Paróquia. A construção ficou a cargo do engenheiro uberabense João
Laterza. “Os trabalhos de decoração e pintura foram entregues aos
artistas espanhóis Carlos Fachion Sanchez e Antônio Lopes Dias. Os vitrais
foram encomendados à Casa de Vitrais Conrado Sorgenicht S.A., de São Paulo. Os
temas foram inspirados na vida de São Francisco de Assis, e principalmente, na
vida de Santa Terezinha do Menino Jesus. No dia 07 de março de 1965, foi
celebrada a primeira missa em língua vernácula, na Igreja de Santa Terezinha”
(PRATA, 1987, p.131). A inauguração da igreja nova foi no dia
de Santa Terezinha, 1º de outubro de 1962, durante missa cantada pelo coral do
Instituto Marcelino Champagnat, dos irmãos Maristas, segundo depoimento do
prof. Pedro dos Reis Coutinho, que fazia parte do coral.(ARQUIVO PÚBLICO
DE UBERABA, 2003, Folha 31)
A Igreja foi construída em 1946 pelos capuchinhos,
os trabalhos de decoração e pintura foram entregues a artistas espanhóis e
passou por muitas reformas no decorrer dos anos. Além de conhecer a história da
igreja, os alunos também se encantaram com seus lindos vitrais e traços
marcantes e belíssimos da arquitetura da época.
Ao redor da
igreja, na praça, os alunos visualizaram as placas, ruas, bancas de jornais e
outros comércios, que a circundam. Na ocasião, foram recebidos pela
proprietária de uma antiga panificadora que se situa na mesma praça e puderam
ouvir a história de construção da mesma e sua evolução no decorrer dos anos.
Foram observadas as sinalizações das ruas que contornam a praça, nomes das
mesmas, outdoors, placas, entre outros portadores de texto que contribuem para
contar a história daquele espaço.
Em sala, os alunos realizaram diversos registros
sobre essa atividade, tais como: oralização da vivência, ilustração por meio de
desenho/pintura, produção de texto, resolução de situações-problemas com
referência na praça, sua localização em mapas do município de Uberaba, uso de
palavras retiradas do contexto para estudo ortográfico.
Em todos esses espaços, percebemos o uso do
conhecimento vivenciado na prática como principal agente de valorização do
aprendizado. A experiência enriqueceu o processo de ensino-aprendizagem e
despertou o interesse dos alunos pelo registro das suas próprias vivências.
Esse fato foi observado em todos os apontamentos feitos pelos alunos.
Esse estudo oportunizou uma leitura
diferenciada da história de Uberaba, mediante informações sobre a cultura da época e contribuiu para o
enriquecimento do processo de leitura e escrita dos alunos da Escola Municipal
Uberaba. A metodologia proposta favoreceu a ressignificação e contextualização
dessas práticas. E o resultado obtido foi à satisfação e o maior interesse dos
alunos pelas práticas de leitura e escrita para registro das suas vivências e
como forma de conhecer melhor a história e cultura do lugar onde vivem.
A
proposta do subprojeto vivida pelos pibidianos aponta para a importância da aquisição
de saberes por meio da troca de experiência com
os alunos. Os saberes teóricos dos alunos, provenientes do curso de formação em
pedagogia, foram relacionados com a prática vivenciada. E, com certeza, essa
experiência enriqueceu a teoria estudada.
Nesse
sentido, acreditamos que esse momento de troca de experiência entre os professores
em formação e os alunos do 3º ano contribuirá com a construção de um
profissional mais competente, criativo e capaz de pensar e repensar a sua
prática pedagógica no cotidiano da escola. A partir das atividades foi possível
evidenciar o quanto é importante o trabalho a partir dos saberes adquiridos e
vivenciados na sociedade ao longo da experiência escolar, ou seja, juntos e
colaborando uns com os outros estabelecemos um círculo de cultura em torno do
processo de alfabetização, o que motivou os alunos e tornou a experiência cheia
de sentidos.
Segundo
Freire (1981), sobre “círculo da cultura”;
Círculo de cultura
é uma ideia que substitui a de “turma de alunos” ou de “sala de aula”.
“Círculo”, porque todos estão á volta de uma equipe de trabalho que não tem um
professor ou um animador de debates que, como um companheiro alfabetizado,
participa de uma atividade comum em que todos ensinam e aprendem.
[...] “De cultura”, porque, muito mais do que o
aprendizado individual de “saber ler-e-escrever”, o que o círculo produz são
modos próprios e novos, solidários, coletivos, de pensar. E todos juntos
aprenderão, de fase, de palavra em palavra, que aquilo que constroem é uma
outra maneira de fazer a cultura que os faz, por sua vez, homens, sujeitos,
seres de história. (FREIRE, 1981, pág. 43)
Tanto os alunos, professores e pibidianos
compreenderam que o conhecimento não precisa ser compartimentado; a cultura e a história do município são muito
ricas e podem ser contextualizadas em sala de aula para favorecer o processo de
aquisição de leitura e escrita, ou seja, o professor pode alfabetizar-letrando
por meio da história sócio cultural do meio onde o aluno vive, transcendendo os
limites da sala de aula.
Espera-se
que, a partir dessas e de outras experiências, professores e alunos possam construir
um novo conhecimento em que ambos descubram que podem aprender e a fazer juntos, provocando mudanças na metodologia e uso
prático das vivências sociais que permeiam o uso da leitura, da escrita, da
cultura, do diálogo, da contextualização, da colaboração, da reflexão crítica e
da cooperação como sendo os principais recursos da prática alfabetizadora
significativa para o aluno, para o professor e para a sociedade.
Referências
Bibliográficas
ARQUIVO
PÚBLICO DE UBERABA. Documento fotográfico. Folha 33, 2001. Disponível
em:
http://www.uberaba.com.br/cgi-bin/portal.cgi?flagweb=pgn_hf_fotolocal&localiza=1&codigo=236
Acesso em 27.05.2013
BRANDÃO,
Carlos R.. O que é método Paulo Freire.
1 ed. Ed. Brasiliense, 1981,São Paulo\SP
BRASIL,
MEC. Kleyman, Angela B.. Preciso
“ensinar” o letramento? Não basta ensinar a ler e escrever?
Cefiel/IEL/Unicamp, 2005-2010. Disponível em:
http://www.iel.unicamp.br/cefiel/alfaletras/biblioteca_professor/arquivos/5710.pdf
Acesso em: 29.05.2013.
TAVARES,
Maria Tereza Goudard. A Cidade e a
Alfabetização das Crianças das Classes Populares: algumas considerações.
Educação Popular – GT: 06. Instituição Financiadora: FAPERJ/UERJ, 2009. Disponível
em: